22 de fevereiro de 2016

Não se vista como homem

Foi esse o pedido que mainha me fez ao ouvir minha ~opção sexual. Talvez choque e você leia já sentindo revolta e preparando os dedos para um comentário caprichado. Mas espera um pouco. Lê até o final.

Nós agimos de acordo com os recursos internos que temos e nem nos damos conta disso. Chorando, mas cheia de amor, ela me ouviu e tacou o pedido. Nunca havia convivido com o assunto, menos ainda tão dentro de casa. Tudo era novo. Pra mim, pra ela, pra minha irmã.

Cada uma viveu seu silêncio, pensamento, dor e outros sentimentos. Tudo para que hoje eu pudesse dizer tudo aqui e com essa segurança.

O assunto veio à tona hoje, enquanto tomávamos café da manhã. Eu nunca havia esquecido o pedido, que sempre cumpri sem sacrifício algum. Mas ela hoje perguntou se assisti ao documentário pernambucano "Bichas". Não, não vi.

Então, ela me disse "lembra que eu te pedi para não se vestir como homem? Então, queria pedir desculpas porque não quis limitar você. Vi depoimento de rapazes super infelizes, não podiam ser quem eram e não quero ter te causado isso".

Não precisou pedir desculpas porque não me causou dano algum. Mesmo que tivesse, merecia todos os perdões possíveis. Mainha e sister procuraram conhecer o ‘assunto’. Leram, procuraram ajuda, ouviram conselhos, se questionaram, aceitaram e me amaram.

O texto aqui não é por oportunismo, demagogia, nada. Que possa, na verdade e pretensiosamente, inspirar um pouco mães, pais, vós, vôs, primos, conhecidos, conhecidas. Despertar para o poder do amor, do respeito ao outro, à liberdade que todos temos. Homem, mulher, homem que se veste como homem ou como mulher. O contrário, o misturado, o que for. Ser quem é. E isso não é fácil MESMO. Mas fica muito mais leve quando seu entorno se permite conhecer o novo com você.



16 de fevereiro de 2016

Odarinha

16.02.2016

Tirando a repetição da dezena, que não vou nem me abalar para descobrir o que pode significar, a data está gravada em mim. Faz parte de minha vida, na verdade. Hoje, exatamente hoje, faz um ano que tivemos a difícil missão de deixar Odara ir. A decisão doeu como um golpe. Especialmente porque quando decido por mim e para mim, eu mesma assumo as consequências. Mas definir o rumo que ela teria era torturante e angustiante.

Não foi uma decisão apenas minha. Todos nós, que estivemos com ela durante os quase dois anos, decidimos juntos e, como não poderia deixar de ser, sofremos. Juntos e separados. Foram meses de total convívio com os cânceres. Pele, mama e pulmão. Lá estava a doença. Doía muito nela, mas não menos em nós. Criamos bazar, vendemos livros colecionados por anos e lixeiras de carro confeccionadas por uma amiga, comercializamos bebida no galo da Madrugada, criamos Vakinha, doamos parte de nosso salário e o possível e impossível de nosso tempo também. Doamos a ela, mas doamos a nós.

Cada etapa da químio, exame pré e pós, vacinas, táxis, caronas, banhos, entre outras atividades, era um aprendizado. De como união é a chave da vida, da importância do dinheiro para a saúde (e do quanto ele não vale nada diante da cura), do poder da rede social e dos amigos. Do acordar cedo para ministrar os medicamentos, preparar a vitamina, escovar os pelos que caiam com o tratamento, dos curativos, do afago para acalmar a respiração agitada. Dor, impaciência e alegria resultavam em aumento na tosse. Então, só carinho, calma, compaixão e companheirismo diminuíam a falta de ar dela.

Ela tinha um gênio que nenhum outro cachorro meu teve/tem. E olha que foram, pelo menos, sete bichos aqui em casa ao longo da minha vida. Quando Odara queria muito alguma coisa, não dava outra. Ela pegava, nem que fosse dentro da panela, no fogão, em cima da pia, do armário. Foram potes de manteiga, bandejas de carne, patês, salgadinhos, galinha, cuscuz, colher de pau..a lista é longa. Se ameaçasse tirar a fatia de presunto, por exemplo, não havia cristão que a fizesse comer. Orgulho puro. Nesse mesmo nível era a chantagem. Quando ficamos sem elevador, ela estava em tratamento. Ou eu a trazia no colo ou ela subia. Mas só quando era motivada por comida.

Com ela, pudemos vivenciar um pouco do efeito de um câncer. Não estou comparando humano x cachorros. É apenas nossa experiência. Entre soros, injeções, biópsias e coletas, muito amor nos olhos dela. E respeito. Pela sua dor, pelo momento que queria apenas ficar deitada na cama dela. Em muitas noites fui dormir me despedindo dela. E na manhã seguinte, aquela tosse denunciava que ela estava viva e animada.

Ironicamente, no último final de semana dela conosco, havia muita festa. Era Carnaval. E isso foi bom porque pudemos descer e comprar muitos espetinhos só para ela. Era uma despedida do jeito que ela gostava. Era uma lição de apego, orgulho, vaidade, amor e saudade. Era entender que não havia ânimo mais algum nela. Só dor e inquietação. O câncer estava sendo maior que ela.

Tentamos, avaliamos todas as possibilidades, rezamos, quisemos um milagre. Não veio. Os médicos olharam novamente os exames e as imagens eram as piores possíveis. Não tinha acordo, remédio fazendo efeito, tranquilidade, nada. Absolutamente nada. E a única alternativa foi te deixar ir. Segurei e me abracei a você durante todo o procedimento e cada vez que o tempo passava, eu queria mais. Reviver as brincadeiras, te causar ciúme, 'correr' com você, reclamar de seu catarro na minha perna e por me envergonhar com seus puns na frente dos médicos ou no elevador. Qualquer momento a mais.

Que dois anos, Odara. Tivemos amigos do início ao final dessa nossa convivência. Pessoas inimagináveis até, como médicos que barateavam ou não cobraram pelo serviço. A moça da barraca que topou vender as lixeiras, os vizinhos que perguntavam todo dia por você, colegas de profissão, parentes, amigos, pessoas de outros estados. Como sempre, gente! 

E conseguimos te oferecer o melhor que podíamos. E faríamos tudo novamente se voltássemos ao tempo. Iríamos na Avenida Cruz Cabugá apenas alimentar um animal que estava deitado na chuva. Depois era só até a chuva passar. E depois só até você estar apta para adoção. E nunca houve esse depois de nossa parte. Foi naquela noite. Era você. Era eu.


Minha torrinha:



















13 de fevereiro de 2016

Desilusão.doc

Hoje, em uma emergência hospitalar, descobri quando começou meu Currículo Lattes de Desilusões.
Estava olhando para a máquina de comidas da sala. É aquela de filme. Tem chocolates, salgadinhos, sanduiches, bebidas não-alcoólicas. E aí, claro, é só colocar a grana, pegar o produto e correr para o abraço. Na verdade, imagino que seja assim. Não ousei chegar perto do equipamento por motivos de vergonha. Emergência lotada de pessoas quase transformadas em zumbis, mas que ficam de olho em quem vai pra máquina e não perdem um só movimento. Tão cheia que, se eu ainda usasse o Tinder, era possível sair já casada daqui.
Voltemos! Ao olhar para a máquina, lembrei daquela beeem antiga e cheia de urso, relógio, rádio, guloseima. Funcionava assim: o ser colocava a ficha, pegava a manivela e levava o gancho para o item que queria, mesmo lutando contra o tempo da máquina. Depois selecionava, pegava o produto e exibia pras amigas da escola. Seria assim.
Realidade:
Otária compra a ficha >> direciona a manivela para o urso >> ela finge pegar o brinquedo, sobrevoa um relógio e levanta vazia >> vem balançando até o final do percurso meio que comemorando seu fracasso >> tente outra vez.
É aquele vai vai vai vai vEPAAA volta volta e foi. O quase vai. Aquele 99% de agora vaiiii e o 1% que vem sorrateiramente, faz a ola e ainda grita olééééé.
Foto: Google

12 de fevereiro de 2016

Quase 30

Cheguei aos 29 e, como péssima aquariana que sou, daqui a pouco começo a me preparar and preocupar para a crise dos 30. A tão falada.

Mas ainda falta um ano. Sendo assim, posso me ater apenas à comemoração mais inesperada de meu aniversário, na última terça-feira. Sim, a de Carnaval. Logo eu, que ainda estou descobrindo se e o quanto gosto da festa, tive que lidar com esse repetitivo fato de viver minha virada de ano junto com o profano (?). Mas começar a madrugada de aniversário com um abraço de mãe e ligação de irmã só podia ser sinal de dia bom!

Estabeleci como meta só sair de Olinda no dia seguinte. Puro blefe. Nunca passo das 19h nas ladeiras. E eis que só saí às 22h. E, se houvesse mais algo por lá, continuaria.

Encontrei tanta gente. Se fosse festa minha, seria capaz de isso não acontecer. Marquei, desencontrei, vi com sorte da vida...teve gente que foi apenas para me ver. E pegou aperto, suou, mas estava lá. Ri, ri, ri! Ri muito, ainda mais quando se consegue integrar amigos que nunca se viram e ficam entrosados pelo elo da simpatia.

Ontem à tarde percebi que não havia recebido nenhum presente. Acabou a chance de fazer aquela foto na cama cheia de embalagem de lojas de perfumaria, roupa..hahaha. Anos passados ganhei coisas incríveis de pessoas importantes. Este ano foi diferente.

Meus presentes estavam expostos nas homenagens no Facebook, nas conversas no WhatsApp e ligações - muitas não atendidas porque estava na rua. E não estou falando de relações virtuais ou distantes. Vivemos tecnologia, então usemos e abusemos da ferramenta para isso também. São contatos próximos e/ou que estão de reaproximando.

Foi um Carnaval de reencontros e recomeços. De uma relação nossa: minha comigo.

Mas, acima de tudo, de perceber que o meu maior presente é gente!

Foto: Google

2 de fevereiro de 2016

Aquariana

Signo: aquário
Ascendente: peixes

Realidade: drama e apego de peixes, individualidades momentâneas de aquariano, toc de geminiana e sabe Deus o resto.

Se aquariana eu fosse, seria este gato abaixo:

(Foto: Efeito Animal)

© Tacyana Viard 2012 | Blogger Template by Enny Law - Ngetik Dot Com - Nulis