Vida e morte. Presença de uma é, automaticamente, a ausência
de outra. Contraditórias e complementares. Passado de uma e presente de outra.
Assim é o ciclo da vida. Esse processo que sempre renegamos como se fôssemos
superiores o suficiente para transpor a lei natural de Deus.
Infelizmente, ainda associamos morte à perda. E, como todo
ser humano e toda carne, perder é derrota. Talvez seja mesmo. Eu, particularmente,
acredito que não se perde alguém para Deus, mas deixemos crenças de lado, se
isso for possível. Perder dói. Admitir não comandar o curso do destino e
reconhecer que não temos poder algum é difícil. Nem sei se entra aqui o danado
do orgulho. Mas essa perda é consequência de um jogo que tenho certeza que o
mais importante não é participar. É lutar e ganhar mesmo. Mas muitas vezes não
é isso o que acontece.
E aí não tem revisão de prova, tira-teima, replay ou
qualquer recurso que nos faça ter esperanças de reverter o placar. Não tem. E
aí as reações são inúmeras e particulares. Há quem entenda bem, aceite a ‘derrota’
e cumprimente o ‘ganhador’. Há um bom tempo ninguém tão próximo a mim partiu
para continuar a vida nos planos espirituais. Ninguém da família, quero dizer.
Porque pessoas próximas se vão. Se foram. Foi uma importante, de uma pele negra
linda e invejável e um sorriso largo e que emitia um som envergonhado, mas que
automaticamente nos fazia rir. Tinha inocência nele, mesmo vindo após algum
comentário absurdo como “esse cachorro tem pacto com demôin”. Partiu para
descansar. Precisava. A doença que tomava conta do corpo não a deixava ser essa
senhora que descrevi acima. E ser de outra forma, sofrida, não condizia.
Vai, ‘vó’, e já cata as mangas para mim, como a senhora
sempre fazia.