22 de dezembro de 2014

Vida e Morte

Vida e morte. Presença de uma é, automaticamente, a ausência de outra. Contraditórias e complementares. Passado de uma e presente de outra. Assim é o ciclo da vida. Esse processo que sempre renegamos como se fôssemos superiores o suficiente para transpor a lei natural de Deus.

Infelizmente, ainda associamos morte à perda. E, como todo ser humano e toda carne, perder é derrota. Talvez seja mesmo. Eu, particularmente, acredito que não se perde alguém para Deus, mas deixemos crenças de lado, se isso for possível. Perder dói. Admitir não comandar o curso do destino e reconhecer que não temos poder algum é difícil. Nem sei se entra aqui o danado do orgulho. Mas essa perda é consequência de um jogo que tenho certeza que o mais importante não é participar. É lutar e ganhar mesmo. Mas muitas vezes não é isso o que acontece.

E aí não tem revisão de prova, tira-teima, replay ou qualquer recurso que nos faça ter esperanças de reverter o placar. Não tem. E aí as reações são inúmeras e particulares. Há quem entenda bem, aceite a ‘derrota’ e cumprimente o ‘ganhador’. Há um bom tempo ninguém tão próximo a mim partiu para continuar a vida nos planos espirituais. Ninguém da família, quero dizer. Porque pessoas próximas se vão. Se foram. Foi uma importante, de uma pele negra linda e invejável e um sorriso largo e que emitia um som envergonhado, mas que automaticamente nos fazia rir. Tinha inocência nele, mesmo vindo após algum comentário absurdo como “esse cachorro tem pacto com demôin”. Partiu para descansar. Precisava. A doença que tomava conta do corpo não a deixava ser essa senhora que descrevi acima. E ser de outra forma, sofrida, não condizia.


Vai, ‘vó’, e já cata as mangas para mim, como a senhora sempre fazia.

11 de dezembro de 2014

Resgate


O ser humano tem uma incrível capacidade de se tornar um asqueroso e repugnante, mas que bom que há aqueles que têm um amor sem limites. Só olhar aqui. Particularmente, desconfio de quem não gosta de animais.




2 de dezembro de 2014

Samba, só ele

Salve o samba!

É hoje o dia do, ao meu ver, um dos ritmos mais universais deste Brasil. Aquele que agrega, que quebra preconceitos e paradigmas. Aquele que abre a roda para negros, pobres, mulheres e quem mais se permitir à música.

Brinco dizendo que só posso ter vivido minha encarnação anterior no Rio de Janeiro. Isso explicaria tamanha paixão pelo samba, Lapa e a boemia característica de mestres como Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia, pela Praça Onze, escolas. Estou longe, bem longe, de ser historiadora do assunto. Não há muito tempo para isso.

Mas eis aqui uma apaixonada pela letra e melodia que o samba traz aos meus ouvidos. A história que ela pesa em cada letra. Amores e desamores, sociedade, malandragens e tudo o mais que inspirou cantores que sonharia em ver de perto. Sim, sonho!


Apesar de às vezes haver um distanciamento, ele me completa. E me consola, acaricia, machuca, fere, arranca riso e lágrima. E a próxima tatuagem, cujo trecho está na música de Nelson Sargento, na voz de Beth:



18 de novembro de 2014

Andar com fé?


Falar sobre fé é algo delicado porque envolve o abstrato. Classifico assim por ser um sentimento e, como todo ele, é difícil dar forma física e palpável por meio de palavras. Tenho fé, sei disso. Mas também sei que às vezes a questiono e desacredito. É contraditório e é erro meu, apenas. Por dar voz ao lado humano – no sentido carnal mesmo, matéria.

Ontem um taxista me revelou que a filha, de 26 anos, está com câncer de mama. Está terminando a quimioterapia para dar início à rádio. Posso imaginar a dor dela e da família. Falei tudo o que acredito. Que há um sentido, que Deus sabe o que faz e o peso que coloca em nossos ombros. Falei com verdade mesmo. Realmente acredito que nada acontece por acaso. Que nunca foi à toa o sofrimento e nem as alegrias.

Às vezes, pergunto: tenho essa fé mesmo? Será que se algo de mais duro me acontecer, saberei respeitar e aprender com a dor?

Deus, embora uns creiam ou não, uns vejam ou não, se mostrou presente também nesse final de semana. Estávamos andando pelo Derby quando vimos uma cachorra mancando. Comecei logo a me aproximar. Ela tinha uma faixa enrolada na pata e não andava bem. Na mesma hora, um carro foi encostando para resgatá-la. Que alegria poder ajudar no resgate de um animal que estava com dor. Era só olhar sua expressão e perceber como ela estava perdida e precisando de ajuda.


Não que Deus precise me dar provas. Mas é sempre bom receber um alerta desse para me lembrar que jamais devo perder a fé ou duvidar do que sinto!

7 de julho de 2014

Aspas da vida



Dia desses estava ouvindo Pedro Miranda e um trecho de suas excelentes músicas (ou cantadas por ele) dizia “falso malandro quis ser mais esperto que a própria esperteza”. Fiquei pensando nisso e contextualizando ao dia a dia da gente.

Estamos em um mundo cujo sinônimo de esperteza é “se dar bem”. Tudo aspeado mesmo, porque há uma ilusão tamanha em conquistar pequenos “êxitos”. Ai, aspas de novo. Quem comemora essas vitórias são aqueles que furam fila porque foram espertos e encontraram algum amigo próximo ao caixa ou porque utilizaram força bruta para isso. São aqueles também que, numa matemática fora do comum, lucram em cima de outra pessoa. Também, e como esquecer?, que furam sinal, jogam carro, passam pela faixa de pedestre como se estivessem em uma BR. Há aqueles também que viram o jogo. Não aqueles de tabuleiro, resta um, war ou banco imobiliário (de máquina de crédito/débito ou notas promissórias).


Esse esperto é aquele que tem os conceitos invertidos. Comemora atos e feitos que deveriam, na verdade, envergonhar a si mesmo. É aquela pessoa safa pelas regras atuais. Aqui, no famoso “pé no bucho e mão na cara”, vence aquele que se acha sincero por dizer tudo o que pensa e no tom que quer; que vence no grito e escândalo; que articula para que os outros o apoiem com apenas uma versão distorcida das coisas; que esoalha o fato antes de todo mundo. Enfim. Esses existirão sempre. O oposto, não, porque é difícil se manter coerente com leis cristãs e/ou éticas diante de tanta esperteza.
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