Foi de primeira. Não lembro como, onde e nem quando. Já gravo muitas datas na minha vida, então, deixei esse marco para lá. Também não sei qual foi a brilhante e mágica música que me fez apaixonar por ele, o samba. Ele, que agoniza mas não morre, é bem vivo na minha vida. Aliás, ocupa o meu dia todo.
Enredo, canção, partido alto...não me importa quantas faces ele tem. O amor pelo samba tem que envolver algumas submissões. É preciso aceitar que mais gente se apaixone por ele. Mais: que ele corresponda. Precisamos aprender a dividi-lo porque está no dna dele ser receptivo a todo tipo de afeto, paixão, amor e carinho. Ele me dá atenção o dia todo, fala comigo do acordar ao adormecer. Às vezes, canta enquanto eu durmo. Sabe quando você tem muita semelhança com alguém? Pronto. É assim com ele. Me conta casos em que pareço ter sido protagonista, descrevendo cada sentimento, seja de alegria, saudade ou dor. Fico até boba com esse talento que ele tem.
Mas também temos nossas crises. Muitas vezes, sem dó e nem piedade, ele fala coisas que eu não queria ouvir. Mas, com um dedilhar e voz suave, me enrola. Coloca o dedo na ferida, me faz lembrar momentos que não queria e até imaginar lembranças que nem tive. Não sei como. Também não sei bem onde ele nasceu e nem o ano. Apesar de pesquisar sobre, nunca foi determinante em nossa relação. Quando pesquiso, vejo no seu passado noitadas de boemias, sempre cercado de gente. Mas, como disse, ele é assim. O que posso fazer?
Amor não se explica. Sente-se apenas.