27 de novembro de 2011

O samba e eu

Foi de primeira. Não lembro como, onde e nem quando. Já gravo muitas datas na minha vida, então, deixei esse marco para lá. Também não sei qual foi a brilhante e mágica música que me fez apaixonar por ele, o samba. Ele, que agoniza mas não morre, é bem vivo na minha vida. Aliás, ocupa o meu dia todo.

Enredo, canção, partido alto...não me importa quantas faces ele tem. O amor pelo samba tem que envolver algumas submissões. É preciso aceitar que mais gente se apaixone por ele. Mais: que ele corresponda. Precisamos aprender a dividi-lo porque está no dna dele ser receptivo a todo tipo de afeto, paixão, amor e carinho. Ele me dá atenção o dia todo,  fala comigo do acordar ao adormecer. Às vezes, canta enquanto eu durmo. Sabe quando você tem muita semelhança com alguém? Pronto. É assim com ele. Me conta casos em que pareço ter sido protagonista, descrevendo cada sentimento, seja de alegria, saudade ou dor. Fico até boba com esse talento que ele tem.

Mas também temos nossas crises. Muitas vezes, sem dó e nem piedade, ele fala coisas que eu não queria ouvir. Mas, com um dedilhar e voz suave, me enrola. Coloca o dedo na ferida, me faz lembrar momentos que não queria e até imaginar lembranças que nem tive. Não sei como. Também não sei bem onde ele nasceu e nem o ano. Apesar de pesquisar sobre, nunca foi determinante em nossa relação. Quando pesquiso, vejo no seu passado noitadas de boemias, sempre cercado de gente. Mas, como disse, ele é assim. O que posso fazer? 

Amor não se explica. Sente-se apenas.



20 de novembro de 2011

Voltei ontem à casa de minha avó paterna, depois de alguns anos. Afastamentos e problemas do passado à parte, já fui vê-la, mas nada se compara ao que senti ontem, quando fomos comemorar o aniversário de 92 anos dela.

O quintal, que antes era um espaço de corrida entre as diversas plantas (paixão dela), hoje está livre, sem 'obstáculos'; o aquário, cuja luz rosa e a enorme quantidade de peixes me distraíam, está desativado. Nada de peixe, água..só o cano dentro do vidro. A sala, onde já nos apresentamos, está maior. Não tem mais o centro com um pote de confeitos e não serve de apoio aos nossos pés. O quadro, esse sim, continua lá. Retrata uma noite na praia e uma jangada ainda em terra. Não sei o que me atrai nele, mas sempre olho. 

No primeiro quarto não há mais a penteadeira velha e cafona, mas que adorávamos; o outro quarto permanece igual, com alguns retratos na parede e duas camas para hóspedes - os lençóis é que não estão mais tão alinhados como antes. O quarto de vovó hoje é adaptado. Com alzheimer e parkinson, ela precisa de cuidados redobrados e maior acessibilidade. Antes, eu ia, como que de forma sagrada, me pesar - e ela ficava na porta me esperando seguir o ritual até me ouvir dizer "é, continuo com o mesmo peso".

A sala de jantar, que testemunhou encontros - macarrão parafuso era especialidade da casa, assim como caranguejadas aos domingos - me pareceu menor também. Ela ainda tinha uma área onde ficava um carrinho de guloseimas. Era nosso cantinho preferido. Sempre comia amendoim e ameixas. Hoje, vazio. Silêncio também na copa e na área externa, onde também comíamos enquanto assistíamos à novelas. Não fui ao último quarto, mas ainda deve ter a coleção de barsa e jornais que vovô guardava para vender.

Não vi os vizinhos na rua, mas Cartola, Nelson Gonçalves e afins continuavam cantando em altíssimos decibéis na casa do vizinho da frente. Foi a única coisa que me fez voltar uns15 anos e relembrar tudo isso. Minha avó, antes arisca, estava frágil, aos prantos, sofrendo porque não conseguia lembrar quem eram aquelas pessoas que estavam ali. E, quando dizíamos que fomos comemorar o aniversário dela, mais choro. Tomou banho, comeu, deitou, ficou conosco na sala. Tudo regado a lágrimas. Dela e nossas. Vê-la angustiada por não lembrar que sou neta doeu. Não faço questão que ela lembre de mim, mas não queria que ela tivesse consciência de sua perda de memória. Coloquei-me no lugar dela, e também minha mãe ali.

Pessoas ativas e independentes e que, do nada, têm que se adaptar a depender de alguém para comer, tomar banho e remédios, quem são os parentes e pior: explicar que ela mora naquela casa. De 10 e 10 minutos. Saí de lá tendo certeza de que sou mesquinha, de que sou uma péssima neta. Choro e sofro por dores que pareceram inexistentes diante da dela. Minha ausência é responsável por

1 de novembro de 2011

Pulsos

Defensora de que a ociosidade não é boa conselheira, eis o fruto de um árduo trabalho de criatividade. Mais: de observação. E também porque temos um gosto cafona, bora confessar. Em alguns dias, Eduardo, Andréa e eu levantamos, ouvimos e compilamos algumas músicas alegres. Só que no inverso. 

São canções que remetem a uma mulher batendo a porta na cara do amado e escorregando nela ou ainda alguém se jogando de bruços na cama e, quiçá, jogando jarros e celulares na parede. Se for rica, como Vera Fisher, incorpora a Helena e sai chorando pelas ruas do Leblon sem ser xingada. No nosso caso, essas músicas nos remetem a alguém lavando a louça na hora do almoço, fazendo o jantar de domingo enquanto ouve o especial de Roberto Carlos aos domingos ou ainda lavando o banheiro aos sábados.

As músicas são tão, tão alegres que você deve evitar se estiver em altura acima de dez metros, perto de pontes, viadutos ou avenidas movimentadas, de posse de objetos cortantes, lençóis, cordas e afins. Também corra do rivotril (taí Luciano para provar), miosan e similares. Está longe disso tudo? Mesmo? Se as duas respostas forem 'sim', segue o post e confere o álbum Pulsos. Se ouvir tudo sem derramar uma lágrima, aguarde a versão internacional. Se a resposta foi 'não' ou um 'er..bem', espera mais um pouco, fecha o blog e depois a gente proseia.




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