Depois de combinar na sexta-feira, ontem fomos ao que teimam em chamar de jogo, no Arruda. Era Santa Cruz contra o CSA, de Alagoas. A trupe: mainha, meu tio, um primo e eu. Ah, e também foram as senhoras Persistência, a Confiança a Fidelidade. A dona Esperança recuou e, às 14h30, pouco antes da partida, disse que não iria mais uma vez.
Mesmo desacompanhados da dona Esperança, lá fomos nós. Em dia de sol de rachar, caminhamos as três ou quatro ruas que separam minha casa do estádio. Compramos o ingresso e fomos entrar, não sem antes passar por um leve aperto nas catracas. Passou rápido, até porque me concentrei nos arrepios que sentia ao ouvir aqueles fervorosos torcedores cantarem e baterem palma antes de chegar às arquibancadas.
Entramos, procuramos sombra e nos acomodamos para assistir ao espetáculo, que atraiu 20 mil torcedores - o maior público da rodada de todas as séries do Brasileiro. O time do Santa entra em campo, começam os fogos, os cantos, a vibração...aquela energia gostosa. O tio assopra o apito e a Confiança começa a sair do estádio. Cada passe errado, bola furada, cabeceio para o interior de Pernambuco e cobrança errada aumentavam os argumentos da dona Confiança. Não teve jeito. Foi embora.
À medida que o relógio andava, a nossa expressão anuviava. Obviamente, quem é tricolor, tem notável bom humor. Entre um 'filhodaputa', um 'tocabolacarái' e o mais usual 'vaitomarnocu,juizfilhodaputa', surgia uma piada. O tema? A falta de qualidade de todos os jogadores. E é porque treinam e dependem do salário que recebem. Aliás, chegamos à conclusão de que quem deveria receber salário são os torcedores. Tem que ter alguma retibuição. Já que não vem em formato de vitória, que se encha o bolso!
Quando o CSA fez o suado gol, a Fidelidade começou a ir embora. Alguns não aguentaram tanta tortura e voltaram mais cedo para casa. Outros, como nós, resistem e assistem até o final. Para os que ficaram lá, acompanhados da tímida Persistência, restou desabafar com vaia ao vexame apresentado durante 90 minutos.
O Santa Cruz perdeu na estreia da série D, que, à propósito, foi criada por nós. Despencamos tanto na tabela que nos restou montá-la. É mais ou menos assim: todos os piores times do Brasil disputam para ver quem será o menos ruim na série C. No ano passado, não conseguimos esse feito de subir. Permanecemos na última. Isso, por si só, justificaria qualquer evasão nos estádios do Náutico e Sport, nosso rivais. Com o Santa Cruz, não.
Nós criamos motivos para ter alegria. Inventamos desculpas para comemorar, sorrir e pagar pelo ingresso. E isso é motivo de inveja de outros torcedores. Nenhum outro tem esse patrimônio: torcida. Sim, distorcemos também. Manter a fé é uma trabalhosa tarefa. Levar a dona Esperança ao estádio é uma lenda agora.
Nesta segunda-feira, ainda ressacados, estamos acompanhando as consequências da derrota para o CSA (segundo meu primo, o CSA entrou de afoito na disputa. Na verdade, outro time de Alagoas conquistou a vaga, mas perdeu, com as chuvas, perdeu tudo, inclusive o campo). Nem as mudanças que estão para acontecer vão fazer com que a dona Esperança volte atrás de sua decisão de não ir mais aos jogos do Santa. Só apelamos agora para a Fidelidade e Persistência. Nossas eternas companheiras.