Ficamos uns dias sem a tv por
assinatura em casa. Aliado a outros fatores, foi entediante depender apenas da Netflix. Mas fui salva por uma memória de uns dez anos atrás, pelo menos. Já
era o fim das locadoras, mas ainda havia uma em Água Fria, que funcionava em
uma casa velha e com cheiro de madeira.
Na infância, eu vivia na locadora
nos finais de semana. Era uma tarefa quase programada. Sabia que voltaria com
três filmes – para assistir em videocassete - e que aproveitaria a promoção.
Geralmente você locava um lançamento e ganhava catálogo. Ou algo assim. Mas o
ruim de levar lançamento era que a gente tinha que devolver em 24h. Lembro que
eu andava um tempão pelos corredores (não muitos, afinal, era Rio Doce) e
olhava exatamente as mesmas capas da semana anterior. Você escolhia colorido e
vinha numa caixa preta e branca. Havia as divisões por gênero e a
famosa-parte-proibida-para-menores. E aquilo sempre deixava curiosidade. Mas
não me atrevia.
Quando muito estruturada, ali
mesmo eu já comprava salgadinho, confeitos e afins para minhas sessões.
Geralmente, vinha “Nove Meses”. Eu não sei o que tinha nesse filme para me
atrair tanto, mas o fato é que, por semanas, eu só voltava com ele e assistia
mesmo. Ninguém lá em casa me acompanhava mais na sessão.
Eu gostava tanto de locadora que
essa era uma das brincadeiras. Separava e catalogava as fitas do videogame,
empinava o colchão, montava a TV (ligada no canal 3) e abria minha locadora. Eu
só não tinha a inteligência de perceber que eu passava o dia vendo meu primo
jogar, já que ele locava, e eu ficava ali só esperando o outro cliente entrar –
o que nunca ia acontecer, não é?
Em menos de 20 anos, tudo mudou. Passamos
a locar dvd, o que evitava o trabalho de rebobinar a fita e a pena de multa se
não levássemos assim. Mas ali já era uma decadência desses espaços mesmo.
Perdemos e ganhamos para a internet. Tudo está nas plataformas e me sinto velha
falando isso. Foi muito rápido. Mas se tem uma coisa que não mudou foi o tempo
que circulo nas categorias para escolher os filmes que vão para a infinita “minha
lista” e os que pretendo assistir na hora. O prazer é o mesmo, mas ainda falta
o cheiro da locadora que não volta mais, mesmo eu indo pelo Google Maps para
reacender essa memória.