19 de setembro de 2008

Tempo que não volta

É estranho quando você entra em um lugar e percebe que o tempo passou, que você cresceu e as pessoas envelheceram. Senti esta sensação agora há pouco, quando resolvi caminhar com minha cachorra e, de supetão, passei na casa da minha avó paterna.

Fazia um tempinho que não a via e, por esse motivo, a senti tão mais velha e abatida. Ela deve ter quase 90 e sofre de Parkinson e Alzheimer, além dos problemas recorrentes da idade.

Entrar na casa dela foi diferente hoje. Foi o lugar que frequentei durante toda minha infância, quando participávamos dos almoços dominicais, com a caranguejada, ou aniversários, com macarrão parafuso. O cardápio era sempre o mesmo, mas niguém enjoava, ninguém reclamava. Primeiro porque ela sempre foi meio durona; segundo porque o tempero dela é único. Sempre era ela que cozinhava.

Vovó sempre foi muito ativa. Sagradamente, ela faxinava a casa todos os sábado. Durante a semana, cuidava das plantas, da casa, das refeições e tudo o mais. As coisas sempre estavam impecáveis. Podíamos chegar lá que logo encontraríamos os lençóis limpos, as camas forradas (inclusive a de um quarto que recebia visitas raramente), os copos e os jogos de panela sempre brilhantes.

Com o passar do tempo, as coisas foram mudando. Além do falecimento do meu avó, há uns 10 anos, passamos a frequentar menos aquela casa de modelo antigo, de decoração tradicional. O motivo foi a quebra da relação com meu pai (que não vem ao caso aqui). No entanto, às vezes almoçava com ela quando eu voltava do colégio. Me fartava lá, muito embora fosse sempre macarrão com carne assada. Por mais que eu subesse dessa falta de variedade, ficava extremamente satisfeita de ir almoçar lá. Lembro também que quando o cardápio incluía feijão e arroz, ele fazia nosso prato e preparava uns bolinhos de comida que tornavam o almoço divertido. Adorava. Sem falar que sempre tínhamos refrigerante à vontade, sorvete, amendoim, leite condensado...

Quando eu entrava na casa de vovó, há tempos, eu mantinha a tradição de ir ao quarto dela para me pesar. De lá, passava na pequena bomboniere para ver o que tinha de novo e enchia a mão de biscoito ou algum tipo de salgado.

Hoje, não.

Ao entrar na rua, percebi o quanto algumas casas se modernizaram com tanta reforma. Ganharam novos ares, novas cerâmicas, grades. Passei em frente a uma que frequentei quando criança. A menina que morava lá era amiga de Taty. Às vezes, íamos brincar na casa dela.

Andei mais um pouco e cheguei na casa de vovó. Nenhum sinal na casa vizinha, que sempre tinha um cachorro ou uma dezenas de gato espalhados.

Olhei a casa de vovó. O espaço que havia no jardim já não existe mais. As plantas ocupam toda a minha área. Digo que minha porque brincávamos naqueles bancos de cimento e eu sempre lavava os pés e as mãos em uma torneirinha que tinha lá.

No entanto, a campanhia estava lá. O mesmo som de anos atrás, a mesma placa indicando que deveríamos anunciar nossa presença. Passei pelo primeiro portão e esperei virem me receber. Já esperava não ser minha avó. E, infelizmente, não foi. Foi minha tia. Vovó estava jantando lá trás.

Entrei, cumprimentei minha tia e segui em direção à vovó. Percorri o caminho rapidamente. Não entrei no quarto de outra tia para sentar na penteadeira antiga. Não entrei no quarto de vovó para me pesar. Passe direto pelo banheiro que sempre tomava banho com minha irmã. Sabia que não sentiria mais o cheiro do Aquamarine, shampoo que usávamos lá. Tampouco arrisquei entrar no quarto de hóspedes, onde eu abria os armários à procura de jogos ou onde me escondia embaixo da cama. Preferi passar direto e não olhar os quadros com fotos já bem velhas e amareladas.

Ao chegar lá trás, vi minha avó e ela me reconheceu. Ela estava sentada na ponta da mesa, lugar que passou a ocupar depois que vovô partiu. Tinha tomado banho, estava cheirosa, de cabelo penteado e calçava um par de pantufa cor de rosa. Com o braço trêmulo, tomava uma sopa que parecia apetitosa. Se alimentava devagar, sem pressa, afinal, já não consegue mais lavar a louça e nem precisa arrumar a mesa. A secretária faz isso por ela. Terminou de tomar a sopa, ganhou um pão com queijo e uma xícara de chá, como sempre bebia. A diferença é que ela não entornou o líquido no pires, como fazia antigamente.

Alheia à conversa entre minha tia e eu, estava mais preocupada em cortar um pedação de pão com as maõs para dar à minha cachorra. Pareceu se divertir com um gesto tão simples e banal. Assustou-se nas duas vezes que foi dar o pão porque a cachorra queria o alimento fervorosamente.
Olhei-a, mas não prendi muito o olhar para que eu não me emocionasse mais e desabasse. Vê-la tão parada, tão quietinha foi tão estranho. Perceber que ela já não tem mais a energia que dispunha...

Preferi voltar para casa. Percorri de volta todo o caminho. Desta vez, com menos rapidez, já que ela estava me acompanhando para se despedir de mim. Antes, porém, ela me contou que tinha cortado o cabelo sábado. Fingi acreditar, mas não era verdade porque a secretária acenava para mim dizendo que não tinha acontecido. Me despedi com um beijo carinhoso na testa, como sempre fiz, e saí contendo um pouco as lágrimas.
Cheguei em casa e vim desabafar e ser consolada por Taty.
p.s: perdoem-me o título clichê.

18 de setembro de 2008

Lenine!

Só para dizer que saiu, hoje, o novo CD de Lenine, o Labiata.
E quem vai comprar?

Euuuuuu!

16 de setembro de 2008

Pela volta dos adjetivos!


Durante uma bisbilhotada em orkuts alheios, comecei a ler alguns depoimentos. Não acho que eles sejam um fator primordial numa relação, mas, claro, não deixa de trazer alegria quando você abre seu orkut e está lá um textinho só de elogios. Do contrário, tem um texto falando de alguém ou um desabafo que vem seguido de um "NÃO ACEITA!!!".

Primeira observação é que a maioria dos depoimentos começa com a clássica pergunta: "O que falar dessa pessoinha?". Logo depois, começam os elogios. No topo dos adjetivos citados está que a pessoinha é "legal". Eu tenho trauma com esse "legal" porque os professores do colégio onde estudei organizaram uma dinâmica de grupo para aliviar a tensão pré-vestibular. E era assim: em uma folha você escreveria a qualidade de cada pessoa da sala; no outro papel, seriam anotados os defeitos. Depois disso, cada aluno leria o que escreveu para a turma. E adivinha o adjetivo que mais foi citado? Pimba! Foi o danado do "legal".

Recebi vários "legais" dos meus colegas de classe e sempre achei isso muito vago. Até hoje não sei o que é ser legal. O que houve com aqueles adjetivos que colocávamos nos papéis de carta cheios de desenhos (leia-se: ursos surfando, pegando sol...) e cuti-cutis? Cadê as palavras como carinhosa, doce, aplicada, interessada, esforçada...?
Todas elas ficaram para trás. Tudo se resume ao "legal".

Para mim, uma pessoa legal é aquela que nem vai, nem vem. Sabe como é? Quando tem lá no depoimento que Fulana, além de legal, é "alto astral", já melhora. Porque aí você já vai montando a imagem da pessoa com adjetivos concretos, que você sabe definir. Mas quando não...

Lado a lado com o legal está o "chata", ou melhor, "xata". Quem é que não é chato nesta vida? Quem nunca teve seu momento de chatice? Volto a perguntar pelas palavras, desta vez, as que apontam os defeitos alheios: egoísta, intolerante, impaciente, pirangueiro...

Alguém as viu por aí? A última vez que vi as que escrevi, estavam empoeiradas em uma carta que dei para minha mãe pedindo desculpas por alguma coisa que fiz de errado. Não cheguei a averiguar os depoimentos que escrevi. Com certeza devo encontrar essas duas palavrinhas mágicas, que já não são "por favor" e " obrigada".

7 de setembro de 2008

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