Se você não conhece Lei de
Murphy, parabéns. Você é praticamente um bilhete de loteria, um golfinho no mar
de Boa Viagem. Eu já tenho uma relação íntima com ele, Edward Murphy. Chamo-o
de Mur Mur (pronúncia: Mãrmãr). Sinto
quando ele vai chegar junto e já me preparo para recebê-lo. Domingo é um dia
naturalmente estranho. A única certeza que você tem é que vai passar Faustão e
que é deprimente. No mais, é um mix de tédio, ansiedade e medo da
segunda-feira.
Ontem podia ser um assim, mas
não. Foi além. Bem além. Acho que já falei aqui do primeiro encontro, e agora
falo do segundo. Você estar sem dinheiro durante a semana e escolher qual conta
vai pagar este mês, ok. Mas emoção mesmo é sair pra um primeiro e segundo encontro
no mesmo final de semana com a conta no negativo. Com uma pessoa que tem
dinheiro, etiqueta e deve ter frequentado aulas com Danuza Leão.
Em primeiro lugar, a dignidade.
Você recusa que a pessoa pegue você em casa, se garantindo que domingo é meia
passagem. Sem falar que bora pensar no meio ambiente, no livre trânsito que o
dia proporciona e etc. Conte o dinheiro, calcule e pronto. Tudo certo. Vai lá.
Desce na parada e anda alguns quarteirões, mas devagar, que é pra não chegar
suada. Faz a linha.
Chega à casa da pessoa, que tem
uma bela decoração, copos para os variados tipos de bebidas: vinho, licor, cerveja,
água suja, água natural, sem gás, blábláblá. O petisco? Fiquei “na chón”. Nunca
mais me orgulharei das calabresas, farofa e fritas que faço em casa para
receber as amigas – lisas também.
O molho anunciado para o almoço
soou estranho. Só entendi a parte do tomate. No mais, fingi conhecer e fiz cara
blasé, como uma pessoa que já está habituada a esses tipos de ingredientes. Mas
tão acostumada que já enjoou. Falando em refeição, não se ofereça para preparar
a mesa. Não se, assim como eu, você não fizer ideia de qual posição deve ocupar
o garfo e a faca. Caso já tenha se oferecido, como eu, finja que se esqueceu de
continuar o serviço e se distraia com alguma coisa, como a quantidade de souvernir que tem na casa das inúmeras
viagens que realizou (e você só tem uma estátua pequena do Cristo Redentor). Por
alguns motivos, não almoçamos. Pensando bem, pode ter sido bom. Vai saber como
eu ia encarar o macarrão? Ops..massa.
Murphy, cavalheiro que é, me
acompanhou até chegar em casa. Ônibus na volta e alguns remédios comprados,
menos dinheiro no bolso. No caminho, já perto de casa, você tem uma crise de
tosse. Mas é daquelas que te deixam vermelha, com olhos marejados, sem ar e
todos os passageiros olhando para você. Desci correndo para comprar uma água
(mais dinheiro que coloquei em circulação). Preciso dizer que perdi o ônibus?
Que passei mais 30 minutos esperando outro? Que fiquei mais lisa ainda? E que
uma criança vomitou do meu lado?