Só havia passado por lá uma vez, e de carro. Não fazia ideia da
estrutura e da organização para a realização do desfile, mas...e quem se
importa? Vamos lá. Andando com pessoas tarimbadas, o primeiro passo foi colocar
uma fralda geriátrica (tamanho G). Depois, maquiagem. Mais depois, se deslocar
para a concentração. Entre fogos, barracas, pagodes, vendedores de
camisa/chapéus das escolas de samba/espetinho, fomos nos dirigindo para o ponto
de encontro. Enquanto esperava, um pastel de queijo para dar a ‘sustânça’
necessária pro aguentar a noite. Isso lá pelas 23h.
Aproximadamente duas horas depois, começamos a nos vestir. Não, não
tirei o posto de Rainha da Bateria, ocupado por Viviane Araújo. Não que eu não
tenha um corpo para isso. Nada como uns pequenos ajustes, mínimas intervenções.
Desfilei na ala das baianas. Agora posso entender porque vejo as baianas pouco
simpáticas durante o desfile.
Quase 25 kg de roupa de couro. Como o tema foi o Cordel Branco e
Encarnado, traços nordestinos foram ressaltados, como a Maria Bonita. A roupa
incluía uma calça, saia, colete, anágua e por aí vai. Precisei da ajuda de
veteranas para me vestir e conseguir colocar o chapéu. Pronto. Vestida. Agora é
esperar a hora do desfile.
Até lá, segura o xixi (não consegui usar a fralda, com medo de vazar.
Não ia pegar bem molhar toda a roupa). Enquanto as outras alas utilizaram o
banheiro químico, nós, baianas, não. Imagina segurar a saia de lado, tirar a
calça, o short, a fralda...não. O jeito é esperar sentada. Outro processo.
Quando me acomodo, “levanta, vamos mais pra frente”. A gravidade não ajuda e o
peso aumenta consideravelmente. Tempo depois, sentar, né?
"Levaaaaaaaaanta! já vamos entrar". Desisti e fiquei em pé.
Minha prima já tinha combinado "me segue. O que eu fizer, você
repete”. Fomos andando, desviando de umas 100 baianas, subindo em calçada e
segurando a armação. Tudo certo até que, quando estávamos enfileiradas, não
sabia onde estavam minhas primas. Fiquei fileiras e fileiras de distância delas
e era impossível conseguir ir lá para frente.
Bom, vou seguir o que todas elas fizerem. Os intérpretes chamaram a
bateria furiosa, entoaram o “Lá vem a Academia! Segura que eu quero ver..” e deram início ao desfile. Entrar na
Sapucaí com aqueles fogos, brilhos e o público acenando é indescritível.
Quando começo a olhar para os lados, vem o primeiro grito
“ROOOOOOOOOOOOOODA”. Eu olhei para trás para saber o que estava acontecendo.
Nada demais. Só uma integrante gritando comigo. Rodei.
Aí vi que tinha uma câmera. Como havia avisado a todo mundo que ia desfilar, me
senti na obrigação de aparecer na TV. Pensei nisso até o “NÃO OLHA PARA A
CÂMERA!!”. Foi o segundo grito. Rodei de novo. No auge do meu giro, quando eu
realmente tinha caprichado e estava quase levantando voo.. “VAI PRALI! TEM UM
BURACO, UM VAZIO!!”. Rodei mais uma vez. Quando já puxava o ar para gritar com
todo amor o refrão, outro: “ANDA DEVAGAR! SE VOCÊ ENCOSTAR NA OUTRA BAIANA, VAI
CAIR!!”. Bicho, foi o último que eu ouvi. Rodei tanto que fiquei tonta, mas saí
da vista dela.
Quando chegou mais pra frente, montei a estratégia para ver os famosos.
Fui andando e rodando de banda – não sei como. Também acenei e soltei inúmeros
beijos a qualquer pessoa que levantava o braço na arquibancada. Chegou um
momento em que eu não conseguia sentir mais meu corpo. Pulava para que a roupa
ficasse dois segundos no ar e eu pudesse não sentir peso. Variava: rodava,
pulava, rodava, pulava.
Não lembro o que me chamou mais a atenção: uma garrafa de água ou a estrutura
que indicava a apoteose. Implorei pelos dois. Mas, até o final, tem outra área
para o público, que fazia gestos pedindo para rodar mais. Eu tentei responder
com um aceno dizendo que a única coisa que eu conseguir rodar era a mão na cara
deles. Mas não consegui.
Fim do desfile, casa. Quase. O anfitrião dorme, deixa os celulares fora
do quarto e não atende nem o interfone. Subi com o porteiro, mas nada de meu
primo ouvir as batidas na porta. Restou-me implorar ao porteiro para dormir no
sofá da recepção e combinar que ele me acordasse quando o plantão dele
acabasse. Acordei com a frase “Colega? Ei, colega, seu primo acordou e mandou
você subir”.