30 de março de 2012

Um dia de baiana

Como sabem, ou não, fui convidada pela comunidade do Morro do Salgueiro e desfilei pela escola, em fevereiro. E passar pela Sapucaí estava – e está ainda – nos meu Projeto Rio 2013, mas eis que nada como ter Viard no sobrenome! Consegui desfilar este ano, no dia das Campeãs.

Só havia passado por lá uma vez, e de carro. Não fazia ideia da estrutura e da organização para a realização do desfile, mas...e quem se importa? Vamos lá. Andando com pessoas tarimbadas, o primeiro passo foi colocar uma fralda geriátrica (tamanho G). Depois, maquiagem. Mais depois, se deslocar para a concentração. Entre fogos, barracas, pagodes, vendedores de camisa/chapéus das escolas de samba/espetinho, fomos nos dirigindo para o ponto de encontro. Enquanto esperava, um pastel de queijo para dar a ‘sustânça’ necessária pro aguentar a noite. Isso lá pelas 23h.

Aproximadamente duas horas depois, começamos a nos vestir. Não, não tirei o posto de Rainha da Bateria, ocupado por Viviane Araújo. Não que eu não tenha um corpo para isso. Nada como uns pequenos ajustes, mínimas intervenções. Desfilei na ala das baianas. Agora posso entender porque vejo as baianas pouco simpáticas durante o desfile.

Quase 25 kg de roupa de couro. Como o tema foi o Cordel Branco e Encarnado, traços nordestinos foram ressaltados, como a Maria Bonita. A roupa incluía uma calça, saia, colete, anágua e por aí vai. Precisei da ajuda de veteranas para me vestir e conseguir colocar o chapéu. Pronto. Vestida. Agora é esperar a hora do desfile.

Até lá, segura o xixi (não consegui usar a fralda, com medo de vazar. Não ia pegar bem molhar toda a roupa). Enquanto as outras alas utilizaram o banheiro químico, nós, baianas, não. Imagina segurar a saia de lado, tirar a calça, o short, a fralda...não. O jeito é esperar sentada. Outro processo. Quando me acomodo, “levanta, vamos mais pra frente”. A gravidade não ajuda e o peso aumenta consideravelmente. Tempo depois, sentar, né? "Levaaaaaaaaanta! já vamos entrar". Desisti e fiquei em pé.

Minha prima já tinha combinado "me segue. O que eu fizer, você repete”. Fomos andando, desviando de umas 100 baianas, subindo em calçada e segurando a armação. Tudo certo até que, quando estávamos enfileiradas, não sabia onde estavam minhas primas. Fiquei fileiras e fileiras de distância delas e era impossível conseguir ir lá para frente.

Bom, vou seguir o que todas elas fizerem. Os intérpretes chamaram a bateria furiosa, entoaram o “Lá vem a Academia! Segura que eu quero ver..” e deram início ao desfile. Entrar na Sapucaí com aqueles fogos, brilhos e o público acenando é indescritível.

Quando começo a olhar para os lados, vem o primeiro grito “ROOOOOOOOOOOOOODA”. Eu olhei para trás para saber o que estava acontecendo. Nada demais.  uma integrante gritando comigo. Rodei. Aí vi que tinha uma câmera. Como havia avisado a todo mundo que ia desfilar, me senti na obrigação de aparecer na TV. Pensei nisso até o “NÃO OLHA PARA A CÂMERA!!”. Foi o segundo grito. Rodei de novo. No auge do meu giro, quando eu realmente tinha caprichado e estava quase levantando voo.. “VAI PRALI! TEM UM BURACO, UM VAZIO!!”. Rodei mais uma vez. Quando já puxava o ar para gritar com todo amor o refrão, outro: “ANDA DEVAGAR! SE VOCÊ ENCOSTAR NA OUTRA BAIANA, VAI CAIR!!”. Bicho, foi o último que eu ouvi. Rodei tanto que fiquei tonta, mas saí da vista dela.

Quando chegou mais pra frente, montei a estratégia para ver os famosos. Fui andando e rodando de banda – não sei como. Também acenei e soltei inúmeros beijos a qualquer pessoa que levantava o braço na arquibancada. Chegou um momento em que eu não conseguia sentir mais meu corpo. Pulava para que a roupa ficasse dois segundos no ar e eu pudesse não sentir peso. Variava: rodava, pulava, rodava, pulava.

Não lembro o que me chamou mais a atenção: uma garrafa de água ou a estrutura que indicava a apoteose. Implorei pelos dois. Mas, até o final, tem outra área para o público, que fazia gestos pedindo para rodar mais. Eu tentei responder com um aceno dizendo que a única coisa que eu conseguir rodar era a mão na cara deles. Mas não consegui.

Fim do desfile, casa. Quase. O anfitrião dorme, deixa os celulares fora do quarto e não atende nem o interfone. Subi com o porteiro, mas nada de meu primo ouvir as batidas na porta. Restou-me implorar ao porteiro para dormir no sofá da recepção e combinar que ele me acordasse quando o plantão dele acabasse. Acordei com a frase “Colega? Ei, colega, seu primo acordou e mandou você subir”.

p.s: foto só no Facebook
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