25 de agosto de 2020

Os pagodes dos novos coroas

 

Ouvindo uma live de samba do Grupo Entre Elas, voltei uns anos – bem poucos - e parei na minha infância. A banda estava cantando música dos anos 90 (me entreguei agora) e, claro, tinha Katinguelê, Só Pra Contrariar Os Travessos no repertório.

Época de usar roupas horrendas, mas é delicado falar isso porque a moda volta e lá vou eu usar de novo. Mas o fato é que, para além do estilo da época, ouvir a música desses grupos, que estavam no Domingo Legal sempre, era quase uma obrigação.

Assim como era a nossa de ir ao Vale das Cascatas, um clube clááássico aqui em Pernambuco. Não lembro exatamente onde ficava, mas a volta era marcada por esses sucessos, a tristeza de ter aula no dia seguinte e o banzo do sol e piscina. Ainda tinha o sofrimento com a letra dessas músicas, né? E olhe que eu nem sabia o que era uma dor de cotovelo raiz. A melancolia só era quebrada por um pacote de salgadinho que eu sempre vinha comendo.

Esse pagode ficou forte na minha vida por anos e, já na adolescência, íamos para clubes daqui atrás do show dessas bandas. Não tive o prazer de ver Salgadinho com seus óculos escuros, mas tenho na memória a apresentação de SPC, que teve que lidar com a falta luz antes da apresentação, e de Os Travessos. Desses eu lembro mais.

Pausa para relembrar ou conhecer o nosso astro:


Foto de internet maravilhosa

Já estávamos ~~grandes e era a fase de amanhecer o dia na rua para voltarmos seguras de ônibus. Lá fomos nós de ônibus para peruar a noite toda. Realidade: era tanta da briga que eu chorei do começo ao fim do show, fiz minha irmã ficar comigo e perder a apresentação também. Era de um nível de violência que arrastava as barracas dos ambulantes e sabe Deus o motivo. O show foi essa furada. Voltamos de manhã para casa, mas não o suficiente para entrarmos em casa. Mainha estava dormindo e não nos escutou, o que nos permitiu ficar umas horas sentadas na calçada do bairro. Depois que passa, tudo é memória, né?

Não terminaria esse post, que não está com muito sentido, sem deixar esse presente aqui:



26 de julho de 2020

Quarentena

Mais de quatro meses em confinamento e não consigo chegar a uma conclusão de como estou ou sairei dela. Esse questionamento sempre fica sem resposta durante as sessões de terapias iniciadas durante o isolamento. Os planos, coisa rara para mim, ficaram pelo caminho antes mesmo de a pandemia se instalar aqui no Brasil. Não posso nem usá-la como desculpa para o abandono dos objetivos.

Enquanto isso, tenho feito coisas que nem cogitava, como malhar (ok, optei pelo nível de iniciantes no aplicativo, mas já comprei colchonete esportivo) e participar de um programa de meditação. Ambos exigem disciplina, um defeito gravíssimo que tenho e sempre ignorei. Agora, como boa parte das desculpas foi embora (ausência de tempo, trânsito, custo...), precisei olhar com atenção minha falta de comprometimento e envolvimento com algumas coisas.

Fiz a inscrição em três cursos e evidentemente eu não ia conseguir dar conta deles. Fato. Precisei escolher e me dedicar a um e assim o fiz. Cumpri toda a carga horária do Reaprendizagem Criativa e, apesar de algumas aulas serem exaustivas, foram bem prazerosas e ricas. O certificado vale muito mais que a inclusão no currículo. Assisti a várias lives, de sertanejo a palestras sobre feminismo e questões raciais.

Também voltei a ler livros. Talvez até tenha batido a meta mensal que estipulei no começo do ano, mas não estou me atendo a isso. Li alguns pfds e descobri que meu pacote de internet dá direito a uma obra digital por mês. No entanto, o que realmente me fascinou foi receber livro em casa e poder, depois de uns dias isolados, folhear, sentir a textura e ter pena de abrir ou dobrar as folhas.

Descobri ainda que podemos consumir dos pequenos. Baseei minhas compras nos mercados, quitandarias, papelarias e padarias de bairro. Ah, vendedores de quitutes congelados e de cerveja também entram nessa relação. Capinei, troquei tela das janelas, montei cadeira de escritório, matei mosquitos, mudei posição do quarto, , ganhei calos nas mãos de tanto usar o rodo para passar pano e ressequei os pés, quando ainda deixava eles em contato com a água sanitária – que, aliás, manchou algumas roupas nesse período.

No mundo lá fora, mais de 86 mil mortes. Um número muito maior de pessoas chorando suas perdas e tendo suas dores questionadas, menosprezadas, diminuídas e desrespeitadas por um desgoverno desumano e desonesto (des, des, des) e pelos seus seguidores. Às vezes é melhor só olhar para as coisas da casa mesmo como forma de respirar e respeitar essa sociedade doente.


6 de julho de 2020

Rádio

Acho que pessoas com menos de 20 ou 25 anos não vão entender o sentimento deste post. O grande astro do texto é o velho e bom rádio de pilha. Siiiiiiim, esse equipamento de pilha incrível que embalou vários momentos de gerações e foi, por um bom tempo, o veículo mais rápido a noticiar as coisas (#chupainternet). Esse tema me veio à mente depois de ouvir um programa na Rádio Cidade, de Caruaru, nesta noite.

Fone de ouvido nem era considerado na época. A graça mesmo era colocar o rádio no ouvido (por isso colo meu ouvido num radinho de pilha) e sentir as vibrações. Ele, inclusive, era o grande companheiro dos torcedores nos estádios e completava a atmosférica futebolística. Não sei se continua ou se também foi substituído pela transmissão via celular, o que evidentemente não é o mesmo ritual. Cadê a arte de girar o botão ouvindo aquele grunhido até sintonizar? E subir a antena para melhorar o som? 

Crédito: internet

Eu sempre gostei de ouvir música e, antes dos reprodutores e streams, era ele a fonte. O mais moderno depois dele era o rádio-relógio, que me permitia saber o top dez das paradas de sucessos da época. O radinho era companheiro, mas eu não tinha dinheiro para comprar e manter um, afinal tínhamos que trocar as pilhas constantemente. 

Acompanhar o programa hoje, em plena noite de domingo, me fez voltar uns vinte anos. Fui direto para um dos auges da crise financeira em minha família. Morávamos de favor na casa de uma tia e, diante do espaço, dormíamos na sala. Nessa época, eu a-ma-va colocar o rádio que meu tio emprestava embaixo do travesseiro e dormia ouvindo aquelas canções românticas e em inglês. Eu não entendia nada, mas as traduções/declamações me faziam sentir todo o clima de amor, mesmo sem eu ter um. Na época, acho que gostava de Diogo, galã da escola e que nunca notou que passei a colocar batom vermelho por ele.

Lembro que dormir enquanto ouvia o locutor e as músicas era um dos meus momentos mais felizes nesse período. O tempo mudou e hoje, que poderia comprar um rádio, não o tenho. Continuo ouvindo música e, quase sempre, adormeço enquanto algum artista canta para ninguém, pois durmo na metade da primeira canção. 


29 de maio de 2020

Antirracismo


Depois de um longo hiato, voltei a comprar livro. A quarentena me fez perceber que não tenho habilidade e nem disciplina para leitura de obras no formato digital. A concentração, já limitada, esbarra nas notificações e na tentação de usar aplicativos de jogos. Como demos a mainha um vale-presente, aproveitei e comprei um livro para mim.

E a escolha foi nada menos que “Pequeno manual antirracista”, de Djamila Ribeiro. Já tinha ouvido e lido algumas coisas sobre ela, assistido a algumas lives e foi natural o caminho para ler o trabalho dela. Ainda estou na metade dele, mas já confirmei o quanto ainda sou racista – e olhe que tento quebrar conceitos e hábitos absurdos, mas que parecem comuns de tão rotineiros que são.

O dedo já coça pelos outros livros, mas ainda preciso terminar de ler este, assimilar e questionar minhas posturas (ou a ausência delas). Por ora, cabe indicar essa leitura e parabenizar Djamila por conseguir transformar um assunto dessa profundidade em um texto fácil de ler e comprometido com a urgência e importância dele.

                                                 

23 de janeiro de 2020

Preconceito


Morando a uns tantos quilômetros do trabalho agora, nem sempre tenho carona para os trajetos. E ontem foi assim. Voltei de ônibus e, diante do horário de pico, ele estava cheio e optei por ficar antes da catraca. Coloquei minha mochila no chão e me acomodei, dentro do que é possível em um sistema de transporte deficiente como o nosso. Não sei em que momento isso aconteceu, mas olhei para a porta dianteira e vi que tinha acontecido algum mal entendido entre o motorista e um rapaz. Coisa simples e sem exaltações.

A partir desse momento, passei a observar mais os dois. Pouco tempo depois, presenciei o seguinte diálogo:

Cobrador: ei, vai passar ou já desse a real para o motorista e dissesse que tás de carona?
O rapaz, meio emputecido, disse: falei
Motorista: falasse o que pra mim? falasse não
Rapaz: deixa, abre que eu vou descer
Motorista: é assim, é? Vai não. Só vai descer quando eu quiser




Eu estava na mesma situação que o rapaz: não tínhamos pago a passagem e estávamos dentro do ônibus. Confiaram que eu pagaria e duvidaram dele. Qual a diferença? A aparência. Tal qual o vídeo que circulou nas redes registrando alguém que teve o celular furtado no ônibus. A vítima acusou uma mulher negra de ter cometido o ato. Imediatamente, ela é revistada pela polícia e exposta para todos os passageiros. Chamou minha atenção  o quanto ela parecia estar habituada a esse tipo de situação, de humilhação. Era um conformismo sofrido, mas insonoro. O vídeo é um pouco longo e o melhor está no final: quem havia furtado o item foi outra mulher. Branca, loira e de ~~boa aparência~~.

O rapaz de ontem é negro e estava despenteado. Usava roupas roupas simples e gastas, um chinelo e estava agarrando uma mochila. A diferença entre nós era a cor - acho que sou parda-, e eu estava com roupas mais conservadas, embora velhas.

Isso foi o que nos diferenciou, na visão do cobrador e motorista (dois profissionais tão sacrificados no mercado e mal pagos). A imagem determinou a conduta deles e norteou o tom da intolerância. O preconceito deu a eles o álibi para agirem dessa forma. Claro que o rapaz estava puto. E acredito mesmo que ele estava pegando carona e não tinha condições de pagar, mas eles não sabiam se eu tinha dinheiro. Eu também não havia dito que ia esperar esvaziar, que ia pegar carona..nada. Nós dois apenas subimos e nos acomodamos.

Intervi e entrei na conversa para avisar ao rapaz que pagaria a passagem dele. E a minha. Ele passou e ganhou o direito ao respeito, tão comum a quem tem condições de bancar qualquer coisa neste pais. O que não passou foi a minha indignação. O que não deve ter passado também foi a dor dele.

20 de janeiro de 2020

Metas. De novo


Depois de mais um ano, finalmente um post. Pensei em vários temas durante essa ausência, mas esqueci cada um deles e acabei não produzindo nada. Este também não é lá algo muito elaborado, mas o importante é começar e tirar o mofo deste humilde blog.

Dicionário.com.br


Clichezão, ele será meu planejamento para este ano, embora já estejamos em meados de janeiro. Algumas coisas já comecei e outras nem sei se vou cumprir. Mas, como conversamos em uma reunião de trabalho um tempo atrás, é melhor começar de forma inacabada do que esperar alcançar a perfeição.

Pois bem. Vou listar que devo fazer mensalmente e me comprometerei a vir aqui registrar o que cumpri e o que não...RISOS. De nervoso.

Lá vamos nós com as metas:

Leitura de um livro de qualquer gênero literário;
Duas idas ao centro para assistir palestra;
Alimentar planilha financeira;
Guardar R$ 50;
Assistir a um filme ou documentário que tenham conteúdo (sobre meio ambiente, comunicação...)
Jogar futebol uma vez.

Pronto, está bom. Parece pouco – e acho que é mesmo – mas não vou repetir erros do passado, como o de listar o céu e o impossível e não cumprir nem 1%.

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