Perto de completar 19 anos, nossa poodle Negrita morreu. De velhice, como sempre pedimos a ela. Não queríamos acompanhar o sofrimento e a luta pela sobrevivência caso ela adoecesse. Ela veio deixando de comer aos poucos e, quando parou mesmo, a levamos à clínica. Internada imediatamente. Estava desidratada e seria submetida a exames para descobrir a causa da falta de apetite. Continuou no soro no dia seguinte, mas sem se alimentar. A médica nos alertou e começamos a levar a sério a eutanásia.
Diante do quadro, faríamos no próprio sábado, mas a clínica preferiu esperar mais um dia, já que ela havia se levantado. Domingo: nada de comer. Mesmo pedindo para esperar, fomos vê-la. Estava fraquinha, cansada. Optamos pela eutanásia no mesmo dia. Tive que conversar com o médico e assinar termo de responsabilidade. Eles queriam esperar pela segunda, mesmo confessando que o destino seria o mesmo.
Foi a parte mais difícil optar pela eutanásia. Dói decidir o fim de uma vida. Muito. Mas, entre lágrimas e muitas lágrimas, cheguei à conclusão que brincamos de Deus. Ele nos deu a chance de ser Ele em um final de semana. Como? Provando que discordamos de muitas coisas que não entendemos, mas que tem uma razão muito nobre que ainda não conseguimos enxergar. Foi o caso de Negrita. Tê-la ao nosso lado, ainda que sofrendo, ou deixá-la partir para descansar? Nosso egoísmo ou o bem dela?
Optamos pelo bem dela, mesmo partindo nosso coração. Escolher a eutanásia foi sacrificante. As lágrimas nos impediam de falar, mas sabíamos que era a decisão correta. Era hora de retribuir tudo o que ela fez por nós (são apenas cinco anos de idade que me deixam mais velha que ela). Também fizemos muito por ela também – não era fácil limpar a casa várias vezes, lavar lençóis e colchões dela, dar banho, amolecer a ração, ajudar a levantar, deixar o rádio ligado e afins. Obviamente, isso tudo foi feito por puro amor. E foi por puro amor que deixamos ela ir fisicamente. Ainda chegamos em casa controlando o ímpeto de ir atrás dela, ver se comeu, se está limpa.. Negrita continua em cada cantinho da casa, no nosso coração e no pensamento.
Brincamos de Deus. Provamos nosso amor libertando-a.
p.s 2: porra, Nega, vou passar o resto do ano pagando as despesas da clínica?! Tinha que ser você mesmo, né? (fazemos essa brincadeira porque ela sempre nos deu despesa. Ela entende)
p.s 3: quero brincar de Deus mais não. Estilei.