E chega o momento que você tanto protelou, mas que se torna inadiável: o de deixar ir. Não por preguiça, mas por comodismo, por se apegar a coisas que vão se esvaindo, se tornando inconsistente, inviável. A dor existe antes, durante e depois da decisão. Antes porque, mesmo sabendo o que é correto, você se nutre dos bons momentos e da rotina gostosa; durante porque é o momento da decisão, de abrir a mão e renovar a confiança; depois porque é seguir em frente.
Você ignora o indício, finge que não o vê porque pode ser que ele também não te veja. E, assim, tudo certo. Segue a linha "me engana e eu finjo que acredito". Toma para si a responsabilidade, resolve carregar nos ombros o que não compete só a você. Mas..que custa você tentar pelo outro também, né? Então, custa. Muito caro.
Custa um chocolate que você dá, um bilhete que escreve, uma mensagem que manda, um presente, uma ligação. Tudo custa. Não em cifras, mas no que essas ações representam: tentativa de agradar, de mostrar companheirismo, de dizer que gosta, de demonstrar preocupação. Custa caro porque você precisa se convencer de que, mesmo não sendo recíproco, não foi em vão. Afinal, o que cabia a você foi feito. Não é ingratidão, só não é recíproco. Vamos à lógica: se não há reciprocidade, por que raios insistir? Nesse caso, não tem nada a ver com os ensinamentos cristãos de ajudar sem esperar algo em troca. O assunto aqui é outro.
Estou na fase do "depois". Dizem - e sei que é verdade - que passa. Dói, mas passa. E o terapeuta ainda reitera: "sinta a dor, Tacyana. Aprenda com ela". "Já estou, Rodrigo", eu retruco. Não há fórmula - e olhe que isso que estou contando não é novidade para ninguém. Estou, na verdade, chovendo no molhado. Não há receita, além do clássico conselho que orienta medida drástica: seguir em frente e deixar o tempo passar (ele ajuda, mas, nessas situações, é leeeeeeeennnnto). Sem peso na consciência, sem culpa.
Já fiz isso com meu pai. É triste, eu sei, mas é verdade. E, quando você simplesmente aceita que não pode fazer mais nada e que a escolha do outro é não fazer mais nada, você também não faz mais nada, a não ser soltar para que a vida cuide. Então, é jogar a bola para frente e esperar pelo dia que você vai olhar e dizer "Ih, nem doeu mesmo".