Quebrando a sequência de postagens divertidas, o texto de agora é apenas um desabafo. Minha pretensão talvez seja dizer para vocês o quanto é importante estarmos cercados de pessoas que nos amam. Ontem, na dor, constatei isso.
Para quem eu não pude ligar, o que aconteceu: meu tio-avô veio do Rio de Janeiro junto com a filha dele. Estão hospedados na casa de minha avó - a irmã dele. Ele já é idoso, tem umas falhas na memória e não conhece o Recife. Nem Olinda, onde minha avó reside. Ontem, ao sair com a filha dele, não quis entrar no salão com ela, que acabou o perdendo de vista. Foi aí que começou tudo.
Minha avó, também idosa, começou a ligar para os filhos e netos e contar o ocorrido e pedir ajuda. Quando recebi a ligação da minha mãe, era início da tarde. Fui para lá me juntar à família. Enquanto isso, um primo já o procurava por toda a orla de Olinda, além de hospitais; meu tio andou pelas ruas da redondeza; outro primo estava com a esposa na delegacia registrando a ocorrência. Depois, fui com mainha a mais um hospital e lá encontramos meu primo. Nesse meio tempo, liguei para amigos jornalistas. Imediatamente, todos se mobilizaram para divulgar foto e informações sobre ele.
Vou ser breve: nos dividimos e procuramos nos terminais de ônibus, no Alto da Sé, nos hotéis e abrigos de Olinda, no shopping (ele já tinha ido lá durante a estada)...nada! A hora passava e angústia aumentava. A preocupação se dividia nele, que estava perdido, e em vovó, que estava sofrendo horrores. Ainda fomos ao Hospital da Restauração e ao IML - uma das partes mais dolorosas, por sinal. Antes de voltarmos à casa de vovó, mais uma volta em Olinda.
Finalmente, no início da madrugada recebemos a notícia de que ele estava em um abrigo em Paulista. Não sabemos direito o que aconteceu, mas um policial estava com ele no bairro dos Coelhos e o levou para o abrigo. Fomos buscá-los e ele estava muito bem e lúcido. Fez piadas e tudo!
Pois bem! Foi no meio dessa dor da angústia e desespero que revi toda a minha família. Estávamos focados na mesma causa e em sintonia. Compartilhamos esse momento, nos abraçamos, nos entreolhamos cada vez que íamos entrar em um hospital numa tentativa de transmitir uma força que duvidávamos ter. E tivemos.
Jantamos, cuidamos do outro, beijamos a cabeça, rimos entre lágrimas, fizemos piada em cima da dor, imaginamos que ele estaria jogando dominó e tomando cerveja...não economizamos nossos amigos e parente de parente. Teimamos e também pedimos socorro ao outro. Revimos nossos conceitos, valorizamos notícias que buscam desaparecidos. Também percebemos a importância que tem um e-mail com o retrato de uma pessoa perdida.
Espítira que sou - aliás, minha família também -, acredito que nada aconteceu à toa, sem um propósito. Deus e sua equipe espiritual estavam lá de cima nos vendo e testando nosso amor. Acho que passamos por essa prova. A lição ainda está sendo digerida, mas o ponto que convergimos durante uma emocionada prece de agradecimento que fizemos em família é que nos amamos. Temos divergências, discutimos de leve, nos encontramos nas datas especiais...mas pudemos, pela segunda vez para mim, estar juntos e aprender pela dor.
A prece também foi direcionada aos amigos. Caramba...como fiquei surpresa com a reação dos meus amigos. Não que eles fossem me deixar na mão, mas a solidariedade foi tão grande! A geral do trabalho, então, nem se fala!
Que Deus nunca permita esquecer esse momento e quem nos ajudou.
Obrigada.