Que bom seria se a vida tivesse aquele cheiro de fruta
fresca que exalava no primeiro passo de entrada na casa de vó. Ou aquele aroma
confortante de um shampoo durante um cansado banho, que será sucedido de um
descanso em lençóis limpos e perfumados com amaciante. E seria maravilhoso sentir
aquele sabor de tranquilidade e paz que só uma fatia de bolo recém-saído de
forno acompanhada de café fresco podem proporcionar.
Mas a vida também tem sabor de eparema em dias de dores de
estômago ou fígado. Ou aquele chocolate caseiro que chega com a embalagem mais brilhosa
possível, mas que mantém aquele gosto intragável (para mim) e que não é
digerido, apenas entope. Vivemos e sempre corremos o risco de sentir novamente
aquela frustração ao pedir ao atendente da padaria aquele bolão de brigadeiro.
E, na primeira mordida, você descobre a fraude de um simples e gelado bolo
comum.
Ela adoça como uma noite bem vivida, um dia produtivo, uma
conquista, uma gargalhada. Mas pode acumular a saliva azeda de uma decepção,
fracasso e frustração semelhante a um suco de limão caprichado na ausência de açúcar.
Pior é quanto tentamos nos enganar na vida da mesma forma que nos enrolamos ao
colocar um adoçante. Não adoça, não amarga. Apenas razoável.
Não somos gastronomicamente educados. Menos ainda
sentimentalmente. Enfiamos o pé, somos imprudentes, experimentamos, repetimos,
devoramos, alteramos a receita, queremos mais. E sempre queremos aquele
brigadeiro quente na colher de pau, a massa de bolo ainda na batedeira e que
raspamos o recipiente com o dedo – o mesmo que usamos para raspar a caixa de
leite condensado. Quem bom seria sempre sentir o queijo do reino derretido na
boca, a batata frita com um salzinho a mais, o biscoito e confeitos que
trazemos da infância. Comida é vida. E isso vai além da rasa rima.