"Talvez este texto entre para a lista dos mais complicados de serem produzidos por mim. Não pelas dificuldades da rotina jornalística de tentar agendar entrevista e apurar informações. Mas pelo fato de a fonte ser eu mesma. Acessível eu sou, só não sei se tenho respostas precisas sobre tudo que foge da praticidade e do concreto.
Definir-me não é tarefa das mais fáceis. Já precisei fazer isso ao me descrever para o Orkut e para meu blog. A diferença é que desta vez serei julgada e, dependendo da avaliação, posso ter uma resposta positiva.
No meu atual livro de leitura, “O que é alienação”, o autor Wanderley Codo afirma que o homem é resultado do que ele produz na/para a sociedade. Apesar de se referir a pessoas, ele utiliza como exemplo o rato. De acordo com Codo, um rato é um rato porque vive como tal.
Fazendo uma analogia e resguardando as devidas proporções, eu poderia dizer apenas que sou uma jornalista e isso bastaria para me definir. Que sou uma pessoa que procura ler, ver e ouvir de tudo, que busca a informação e a opinião de todos, ouve sons mais alternativos (embora esse conceito seja relativo), e que adora um happy hour. Diria também que uso óculos cujo formato é retangular e que meu modo de vestir segue uma linha despojada - com direito a xadrez no figurino e tênis-, mas que segue o estilo social quando a ocasião exige.
Apesar de tudo isso que escrevi fazer parte de minhas características, ainda é vaga minha resposta. Além disso, caio no erro da generalização, já que nem todos os jornalistas são da forma como descrevi, baseada apenas na minha observação.
O que pode me diferenciar dos demais comunicadores, não por superioridade ou inferioridade, mas por não sermos uma massa homogênea, são itens que não estão ligados ao jornalismo. Para isso, deixaremos em pausa o meu lado profissional.
Minha filosofia de vida é “saber ouvir é mais saber”. Virei adepta à letra do cantor e compositor Peninha quando descobri, há alguns anos, que preciso aprender a falar apenas na hora que eu tiver certeza do que eu pretendo proferir. Isso não quer dizer, porém, que eu sou uma pessoa calada. Só acredito que podemos evitar transtornos, já que, para mim, as palavras carregam grande responsabilidade. Através delas, podemos transformar o estado de espírito de alguém. Talvez isso signifique uma postura mais cautelosa. Alguns interpretam desta forma; outros, não. Na minha visão, que é a que mais vale, sou reservada. Não, eu não escondo nada, só prefiro esperar que me perguntem.
Muitas vezes ajo e opino contraditoriamente, mas nada que afete meus princípios tão bem transmitidos por minha mãe. Mudo minha postura e conduta por crer que as situações são relativas e cada pessoa possui personalidade única. Assim, cada uma te conquista de um modo e você age de acordo com as características dela. E isso não é fraqueza, é flexibilidade.
Nos estudos, nunca foi uma exímia aluna. Tive bom comportamento, mas as notas altas não freqüentavam meus boletins, que lia às escondidas. Foi na faculdade que me dediquei a estudar. Gostei tanto que preferi produzir uma monografia como o trabalho de conclusão. Fui a única da turma que arriscou mergulhar em livros para produzir um material de aproximadamente 100 páginas. A satisfação foi tanta que me fez seguir com os planos de entrar para o mestrado e para a vida acadêmica também.
Voltando ao campo profissional, o Jornalismo entrou em minha vida por pura afinidade com a área comunicativa. Na verdade, quando me inscrevi no vestibular não estava certa de que seria a profissão que eu levaria adiante. Só sabia que queria trabalhar com a escrita. No entanto, ao longo do curso e dos estágios, fui ganhando a certeza de que é isso que me proporciona prazer. São minhas palavras que podem prestar serviço à população, informá-las ou tirá-las de sua realidade. Posso até não saber bem o que me levou a ser jornalista, mas tenho total convicção de que é isso que quero para a minha vida."
Esse texto foi produzido para o curso de uma editora em São Paulo. Não fui aprovada.