23 de fevereiro de 2013

Carta para o meu pai

Oi, pai. Tudo bem? Tudo certo por aí?

Nós estamos bem, não precisa lembrar de perguntar. Aliás, depois de muitas fases difíceis, estamos bem. E, ao contrário do início de cada uma delas, desta vez, não nos abatemos e nem choramos sua ausência. Calma, não o trato como se tivesse falecido. Não sou desse tipo de pessoa. O senhor está bem vivo, assim como bem distante. Fisicamente e em todos os outros sentidos que houver. Mas essa questão está superada, há anos.

Mas o senhor faz questão de trazer tudo à tona, né? Faz voltar esse passado e todos os sentimentos que vivemos. Desde abandono ao desamor, todos bem ruins. Mas não sentimos mais. Aliás, permita-me dizer que sua ausência não dói mais. Assim como também não dói você não me ligar no aniversário, final de ano. Graças a Deus, passei essas datas com pessoas que me amam, de verdade. Mas o pior é não se importar durante o ano todo. Seu silêncio não me surpreende mais, ao contrário de sua capacidade de se mostrar uma pessoa fria. Isso, sim, me deixa chocada, não só por ser meu pai, mas também por um ser humano mudar tanto em busca de ego e prestígio. Desculpa, mas continuo brincando e  digo que o senhor virou um gigolô. Ops, não.

Espero que suas filhas daí, biológicas ou não, só conheçam seu lado de bom pai. Até que o senhor era mesmo. Desandou depois quando os seus valores se inverteram ou se revelaram. Mas não tem importância. Você continua com o carro do ano, um cargo de secretário de alguma coisa. Parabéns. Para você, é disso que vive um homem. Vai em frente.

Enquanto isso, agradeço pelos anos de escola cara que o senhor pagou para mim. Por mais que eu fosse péssima aluna, é graças a essa base que hoje sou formada (e pago todo mês o Fies que você pagaria pra mim) e consigo contribuir para o sustento da casa. Queria mesmo que essa fase sem depender de você continue. Não por soberba ou orgulho. Deus sabe que não é. Apenas queria que a gente deixasse claro nossos laços familiares: pai e filha no papel. Nunca fui a sua preferida e agora então... Já até tentamos conviver novamente, mas não sou dissimulada para te pedir para sair ou compartilhar momentos com você. Perdemos isso.

Vi seu pedido de amizade no Facebook, mas não te aceitei porque há umas três semanas já havia te excluído. Não quero ter o trabalho de te procurar e excluir novamente. E resolvi fazer isso depois que o senhor contratou um advogado para nos pedir toda documentação que comprove que somos maiores e capazes de viver sem você. Também pesou bastante o fato de você ignorar todas as minhas tentativas de falar contigo e pedir ao meu tio (o seu irmão que fez as mesmas coisas que você) para entrar em contato conosco. Dei inúmeras chances de você me explicar por que tomou tal atitude. E você não respondeu meus sms e nem minha mensagem msn. Acho que você está rico e teme que peçamos algo. Mas, olha, fica tranquilo. Luto todos os dias para não parecer nada com esse seu lado. Sério, tenho medo de ver em mim traços seus. Mesmo eu tendo cabelo ruim, cegueira, magreza e humor (o meu é mais sarcástico que o seu), prefiro ser assim a ter personalidade semelhante a sua. 

O senhor não lerá essa postagem e não me importa. O que vale mesmo é eu ter desabafado um pouco e, acredite, é melhor do que eu acumular e te encontrar. No mais, não esqueça que existe algo bem maior que o seu umbigo. É a lei do retorno. Não quero vingança ou o seu mal. Mas as atitudes e escolhas têm consequências.

Fique bem, cuide de sua saúde, do seu carro e da sua consciência.
Até.
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