20 de novembro de 2011

Voltei ontem à casa de minha avó paterna, depois de alguns anos. Afastamentos e problemas do passado à parte, já fui vê-la, mas nada se compara ao que senti ontem, quando fomos comemorar o aniversário de 92 anos dela.

O quintal, que antes era um espaço de corrida entre as diversas plantas (paixão dela), hoje está livre, sem 'obstáculos'; o aquário, cuja luz rosa e a enorme quantidade de peixes me distraíam, está desativado. Nada de peixe, água..só o cano dentro do vidro. A sala, onde já nos apresentamos, está maior. Não tem mais o centro com um pote de confeitos e não serve de apoio aos nossos pés. O quadro, esse sim, continua lá. Retrata uma noite na praia e uma jangada ainda em terra. Não sei o que me atrai nele, mas sempre olho. 

No primeiro quarto não há mais a penteadeira velha e cafona, mas que adorávamos; o outro quarto permanece igual, com alguns retratos na parede e duas camas para hóspedes - os lençóis é que não estão mais tão alinhados como antes. O quarto de vovó hoje é adaptado. Com alzheimer e parkinson, ela precisa de cuidados redobrados e maior acessibilidade. Antes, eu ia, como que de forma sagrada, me pesar - e ela ficava na porta me esperando seguir o ritual até me ouvir dizer "é, continuo com o mesmo peso".

A sala de jantar, que testemunhou encontros - macarrão parafuso era especialidade da casa, assim como caranguejadas aos domingos - me pareceu menor também. Ela ainda tinha uma área onde ficava um carrinho de guloseimas. Era nosso cantinho preferido. Sempre comia amendoim e ameixas. Hoje, vazio. Silêncio também na copa e na área externa, onde também comíamos enquanto assistíamos à novelas. Não fui ao último quarto, mas ainda deve ter a coleção de barsa e jornais que vovô guardava para vender.

Não vi os vizinhos na rua, mas Cartola, Nelson Gonçalves e afins continuavam cantando em altíssimos decibéis na casa do vizinho da frente. Foi a única coisa que me fez voltar uns15 anos e relembrar tudo isso. Minha avó, antes arisca, estava frágil, aos prantos, sofrendo porque não conseguia lembrar quem eram aquelas pessoas que estavam ali. E, quando dizíamos que fomos comemorar o aniversário dela, mais choro. Tomou banho, comeu, deitou, ficou conosco na sala. Tudo regado a lágrimas. Dela e nossas. Vê-la angustiada por não lembrar que sou neta doeu. Não faço questão que ela lembre de mim, mas não queria que ela tivesse consciência de sua perda de memória. Coloquei-me no lugar dela, e também minha mãe ali.

Pessoas ativas e independentes e que, do nada, têm que se adaptar a depender de alguém para comer, tomar banho e remédios, quem são os parentes e pior: explicar que ela mora naquela casa. De 10 e 10 minutos. Saí de lá tendo certeza de que sou mesquinha, de que sou uma péssima neta. Choro e sofro por dores que pareceram inexistentes diante da dela. Minha ausência é responsável por

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