A saúde pública não anda nada bem. É redundância de minha parte, eu sei. O fato é que a gente se acostuma a assistir aos jornais e passa a não sentir tanto esse desprezo do governo. Infelizmente (ou felizmente), tivemos que recorrer a um hospital público no último final de semana. Mainha não estava se sentindo bem e não havia feito o plano de saúde - o que, de certa forma, é culpa minha por ter sido omissa.
Fomos lá duas vezes e saimos com o mesmo resultado: suspeita de dengue. Na segunda ida ao hospital, entrei e, enquanto esperava o resultado do exame, fui observar o estado do lugar. Pessoas com dores não tinham direito a deitar em macas. No corredor, claro. Enfermaria é lenda. Alguns, com sorte, conseguiram lençol. Os que chegaram depois tremiam de frio.
Na porta, esperando o bendito resultdo, via uma senhora de uns 70 anos em uma maca. Perto dela estava uma acompanhante. Ela estava tentando se levantar e eu ofereci ajuda. A senhora não ouvia bem e não entendeu nada do que eu disse. Aí a acompanhante explicou que eu era uma moça que iria ajudá-la. A paciente, que estava no soro e debilitada, segurou meus braços e beijou minha mão numa demonstração de eterna gratidão. Para mim, esse gesto representou bem o que todos vivem ali: desespero por um consolo. O beijo foi um agradecimento tão grande de alguém que estava implorando uma atenção, um olhar que reconhecesse que ali existe uma pessoa, um ser humano.
Após receber o beijo, fui terminar de chorar pelos corredores. Não consegui segurar. Me vinha à cabeça o quanto somos mesquinhos e egoístas. Ainda sinto esse sentimento quando recordo a cena. E espero, sinceramente, que eu continue voltando a ele para lembrar o quanto a solidariedade nos purifica e nos conforta.
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